Tio Salomão, tio Salvador e a caçoa (Arquivo JRS) |
Tio
Neco, num desses sábados, logo após o café da manhã, começou a relembrar da sua
infância na praia do Pulso, onde nasceu, terra de origem da vovó Martinha, a
parteira. Essa praia fica no Sul do município, antes da Caçandoca. Alcança-se
ela partindo do canto da barra da Maranduba.
“Naquele
tempo, ali, não tinha mais do que dez casas: nós e os nossos parentes. A nossa moradia ficava no meio da praia, perto
da vó Zulmira, depois do jundu. No canto direito morava o tio Basílio, mais
para o morro era a casa do tio Zé Cesário. Os demais se espalhavam por ali
mesmo. Numa ocasião de trovoada forte, caiu um raio no mato, no caminho para a
Caçandoca e incendiou tudo. A nossa sorte foi que o mato estava todo molhado e
logo se apagou, deixando apenas um pequeno estrago, queimando bem apenas uma
pequena área. Se o mato estivesse seco... o morro todo ardia!
Eu
era criança, faz muito tempo, mas tenho tudo bem vivo na memória! Vejo os
caminhos, a gamboa, o bambuzal logo atrás de casa, os ranchos de canoas...
Guardo aqui na cabeça muitas histórias e causos que contavam.
Tia
Luzia, a primeira mulher do tio Basílio, morreu cedo, era bem nova ainda.
Então, o titio começou a ter um caso com a Izídia. Não tinha nada de errado,
afinal ele enviuvara. Só não sei por qual motivo ele não assumiu o namoro. Nem
sei como eles se encontravam. Só me recordo que ele tinha uma estratégia para fazer
sempre um agrado à namorada. Era assim: ela armava um cumbu no Morro do Canto,
quase na costeira. Na madrugada de cada dia, ele saía para visitar o tresmalho,
para pescar. Assim que tinha em mãos uns bonitos peixes, ele desembarcava na
Costeira do Pão com os pescados de maiores valores, os mais apreciados, e
coloca-os no cumbu da Izídia, fechando a porta. Mais tarde, ao visitar a
armadilha, ela recolhia num balaio o tão estimado agrado do tio Basílio e
voltava feliz para casa. Passava na beira da nossa casa cantarolando. Que lindo,
né?”.
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