quarta-feira, 18 de setembro de 2019

PEIXE NO CUMBU

Tio Salomão, tio Salvador e a caçoa (Arquivo JRS)


               Tio Neco, num desses sábados, logo após o café da manhã, começou a relembrar da sua infância na praia do Pulso, onde nasceu, terra de origem da vovó Martinha, a parteira. Essa praia fica no Sul do município, antes da Caçandoca. Alcança-se ela partindo do canto da barra da Maranduba.

               “Naquele tempo, ali, não tinha mais do que dez casas: nós e os nossos parentes. A  nossa moradia ficava no meio da praia, perto da vó Zulmira, depois do jundu. No canto direito morava o tio Basílio, mais para o morro era a casa do tio Zé Cesário. Os demais se espalhavam por ali mesmo. Numa ocasião de trovoada forte, caiu um raio no mato, no caminho para a Caçandoca e incendiou tudo. A nossa sorte foi que o mato estava todo molhado e logo se apagou, deixando apenas um pequeno estrago, queimando bem apenas uma pequena área. Se o mato estivesse seco... o morro todo ardia!

               Eu era criança, faz muito tempo, mas tenho tudo bem vivo na memória! Vejo os caminhos, a gamboa, o bambuzal logo atrás de casa, os ranchos de canoas... Guardo aqui na cabeça muitas histórias e causos que contavam.

               Tia Luzia, a primeira mulher do tio Basílio, morreu cedo, era bem nova ainda. Então, o titio começou a ter um caso com a Izídia. Não tinha nada de errado, afinal ele enviuvara. Só não sei por qual motivo ele não assumiu o namoro. Nem sei como eles se encontravam. Só me recordo que ele tinha uma estratégia para fazer sempre um agrado à namorada. Era assim: ela armava um cumbu no Morro do Canto, quase na costeira. Na madrugada de cada dia, ele saía para visitar o tresmalho, para pescar. Assim que tinha em mãos uns bonitos peixes, ele desembarcava na Costeira do Pão com os pescados de maiores valores, os mais apreciados, e coloca-os no cumbu da Izídia, fechando a porta. Mais tarde, ao visitar a armadilha, ela recolhia num balaio o tão estimado agrado do tio Basílio e voltava feliz para casa. Passava na beira da nossa casa cantarolando. Que lindo, né?”.

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