Atentai aos sinais! (Arquivo JRS) |
No texto publicado anteriormente,
Roberto Zsoldos se referiu à pedra do raio encontrada em seu sítio. “Era uma pedra, polida, algo gasta, achada
durante preparo de uma cova”. De fato, ao ter oportunidade de ver, eu
admirei muito aquele achado: era uma mão-de-pilão em pedra. Afirmei
categoricamente porque, numa coleção de etnografia, numa tarde distante na
biblioteca da faculdade, com organização de Darcy Ribeiro, eu pude apreciar
desenho semelhante em seu livro, detalhando utensílios usados pelos indígenas
que viviam isolados no Norte brasileiro. Aí me lembrei de ter lido na obra A
Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, a respeito das pedras-de-raios, conhecidas
também como pedra lispe, trazidas por
“línguas de fogo e estalos de corisco que
sempre vadiaram por todo canto”.
Após ter lido A Pedra do Raio tão bem escrita por Roberto, o meu amigo
Napoleão assim comentou: “A minha mãe
falava sempre da pedra do raio, Zé. Dizia ela que era uma pedra que acompanhava
o corisco. Por isso que as coisas eram destroçadas pelos raios. Eu me lembro
muito bem de um raio que destruiu um abacateiro próximo da nossa casa, lá no
interior de São Paulo. Após a queda de raios, a gente perdia tempo em torno do
lugar alvejado, procurando a tal pedra. Mas nunca encontramos nada”.
As pedras-de-raio, pedras de corisco, também chamadas de pedras-de-
Santa Bárbara, de acordo com Luís da Câmara Cascudo, têm tais denominações no
Nordeste brasileiro desde o tempo dos escravos africanos. Elas eram objetos de
culto. “É uma pedra nefrítica ou faca
indígena”. Os índios também as tinham como talismã. “E nessa presunção preparam medicamentos para beneficiar o organismo
humano: tomam das folhas de certos que só eles conhecem: tomam das folhas de
certos arbustos que só eles conhecem, corta-as com as ditas pedras, coloca-as
em gema de ovos, e depois envolve nessa mistura aquele instrumento indígena.
Durante essa operação, o africano entoa uma oração no dialeto em que se
exprime, a que se dá o nome de Etu-tu”. A crença popular, presente em quase
todos os povos mais antigos, acredita que a pedra, caindo das nuvens, “introduz-se no subsolo até a profundidade
de sete braças e só ao cabo de sete anos é que volta à superfície, e nessa
ocasião só a pode encontrar a pessoa privilegiada”. Assim os antigos
caiçaras falavam em ocasião de açoites
de coriscos: “Valei-me, Santa Bárbara”. Por isso, qualquer
forma encantada que brotava da terra, era sinal que uma pedra especial vinha
boiando, logo se veria. Daí a justificativa da recomendação: “Atentai aos
sinais!”.
Roberto, você, possuindo a pedra
lispe, é uma dessas pessoas privilegiadas! Agora, com certeza, ela pode render uma
boa tese antropológica!
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