Este mundo não é apenas dos homens (Arquivo JRS) |
Totonho
do Rio Abaixo mora nesta terra há muito tempo. No tempo da fartura de mandioca,
nasceu por descuido. Por aqui cresceu gritando pelos caminhos, se banhando na
cachoeira. “Também soltei muita pipa,
estilinguei muito passarinho. Sou um exemplo para os meus filhos”. Que
exemplo, né?
Conforme
as suas próprias palavras: “Fui
alfabetizado e doutrinado nas Santas Escrituras”. Pois é, Totonho! Isto lhe
é de muita valia, pois hoje você se aventura em enganar ingênuas pessoas,
pobres coitadas, para aumentar os seus bens. “Eu ameaço até com castigo eterno. Tenho o dom da palavra, sou
iluminado, meu amigo”. Um terreninho
aqui, uma chácara acolá, mais um carro etc. “Vou
me fazendo, Zé. E olha que eu só estudei até a quarta série, naquele tempo nem
tinha escola aqui”.
Agora,
quando o dia está raiando, Totonho já
está longe, fazendo coisas irregulares, fora da lei mesmo. Depois... é só
entregar a carga e receber os cobres. “Ainda
não faturo muito; é pouco, mas ajuda. De
vez em quando tenho de subornar alguém senão vou em cana e pode acabar com a
minha moral”. E assim, com mentalidade de quem está levando vantagem, o
dito cujo é mais um a dar a sua contribuição para a destruição da nossa riqueza
ambiental, do nosso meio ambiente. Lógico que, das crias os pais são os
primeiros professores! Daí segue-se a lógica cruel; no dizer antigo: “Filho de peixe peixinho é”. Ou seja,
sem-noção.
Você já pensou,
Totonho, que as futuras gerações, seus netos inclusive, precisarão de um
ambiente saudável para uma vida de verdade? Você, que se diz formado nas
Sagradas Escrituras, não percebe a contribuição que dá para o Inferno nesta
terra (aliás, o único de verdade)? E não me venha com esse papo de “se eu não fizer, os outros fazem”. Você
tem de responder por você. Aquele rio limpo onde você cresceu se banhando já
não existe mais, mas é possível recuperá-lo. Esses rombos pelos morros onde
alguns continuam explorando devem ser embargados. Esse tanto de esgoto tomando
o mar não deve continuar. Enfim, o vil metal é o seu câncer. Tasquei. E ele: “Sou ilegal graças a Deus”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário