segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

“SE ACHEGUE, B’VENHA PRO CUPIÁ, ZEZINHO”


           
Olha nós! (Arquivo JRS)
    A primeira vez que encontrei o Seo Dito Madalena (Benedito Antunes de Sá) foi quando ele, seus irmãos e suas famílias estavam entranhados no Saco dos Morcegos, onde é possível ver ainda hoje ruínas que atestam as posses dos Antunes de Sá, herdeiros do antigo território da grande fazenda da Caçandoca, que começava na Pedra da Cruz e terminava na Pedra do Um. Naquele tempo, bem mais tarde, os três filhos, os herdeiros, se fixaram nas praias da Caçandoca, da Raposa e no Saco dos Morcegos. Você ainda não viu esses marcos históricos? Mas voltando ao começo, numa tarde distante no tempo, depois de uma caminhada maravilhosa a partir das Galhetas, cheguei num momento de fechar a farinhada. O preto tava branco do pó que se suspendia da borda do forno. Dona Constantina, de saudosa memória, se desdobrava entre a lida da casa de farinha e o cupiá. Não sabe o que é cupiá? É a casa do fogão, feita ao lado da cozinha. Pensou que fosse besteira, né? Na verdade, era estratégia para não pretejar a casa por dentro, para não deixá-la toda cheia de barbas de picumã. Ai, chega! Não vou explicar mais! Hoje, justamente, neste dia (20 de fevereiro de 2017), Seo Dito está completando 83 anos. Por isso fiz questão de ir até a Caçandoca no último sábado, de tomar um café e rir muito com ele e alguns dos filhos.
               Seo Dito Madalena! O Benedito da Magdalena, a escrava que foi a companheira de um dos Antunes de Sá! Dito  Madalena, o “Coruja” que tantos desafios enfrentou para se manter na posse de seu pedaço de chão! Foi ao comandante do Exército, em Caçapava. Foi ao presidente Garrastazu Médici em Brasília para ter uma garantia contra os grileiros. Um detalhe: “analfabeto na leitura, mas alfabetizado na resistência”, conforme as palavras do ricaço Bassin, aquele que comprou a posse do Gregório Crispim, no Saco das Bananas.
               Está longe aquela tarde, quando cheguei suado, com carrapichos até os joelhos. Ainda tinha cajus e jacas, mas eu preferi a chaleira de café e os beijus que fartavam no cupiá. E naquele lugar, com aquelas pessoas eu fui muito feliz! Ótimas lembranças! Por isso faço questão de cumprir este ritual (da visita) a cada ano. E na nossa linguagem, na correria da vida, assim como no lagamar, tenha do esperar, de “aproveitar o jazigo para atravessar a arrebentação” e novamente ficar tranquilo. É o meu povo! É a minha memória!

               Parabéns, Dito Madalena! E vê se não descuida do fortificante!

2 comentários:

  1. Maravilhoso! Parabéns Zé, grande abraço.

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  2. Olá José Ronaldo. Tudo bem? Meu nome é Ramon, sou professor de Arte do Estado e atualmente moro em São Carlos-SP com esposa e filha. Vou esperar sair o pedido de remoção e pedir transferência para Ubatuba, pretendo. Penso que seria muito bom ter um auxilio de alguém que já mora aí. Para escolher a escola para onde pedirei remoção e o bairro onde vamos morar. Será que você seria essa boa alma? De qualquer maneira já agradeço. E parabéns pelo blog, li algumas postagens antes, a de Ubatuba em 2012 acho e essa agora. Fico cada vez mais animado com a cidade. Abraço.

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