domingo, 5 de fevereiro de 2017

ESTÁ NO D.N.A DESSA GENTE!

Seo Martins, da Trindade, avô do nosso saudoso Elias. (Arquivo Trindadeiros)

                Na década de 1990 eu tinha um amigo que fazia transporte de pescados de Ubatuba para a cidade do Rio de Janeiro. Eram duas viagens que o Nelson fazia semanalmente num caminhão (Mercedes Bens, modelo 1313, equipado com uma potente câmara fria). Dizia: “Eu até já decorei essa estrada daqui para o Rio. Tem lugares lindos: Paraty, Angra, Mangaratiba...”. Esta introdução já deu para perceber que muito peixe era desembarcado no nosso Caisão e no atracadouro do Saco da Ribeira.
Saco da Ribeira - O pescador Rodrigo, gente da Picinguaba (Arquivo JRS)

                Não creio que muitos saibam que a corovina (corvina) não é um peixe preferencial na dieta dos caiçaras de Ubatuba. Vovô Armiro explicava: “Corovina é peixe que numa em época do ano tem cheiro forte e se enche de vermes. Por isso não presta. Saprezado até que passa”. Tinha até um amigo do meu pai que, devido ao bafo forte que exalava, tinha o apelido de Corovina. Já a família Corovina, que morava no jundu, perto da Barra da Lagoa, próximo de onde hoje é o aeroporto da cidade, nem sei o porquê dessa denominação. Assim, é quase natural os ubatubanos torcerem o nariz para a corovina. Fiquei muito admirado quando o Nelson me disse naquela ocasião: “Sabe de uma coisa, Zé, o peixe que mais agrada os cariocas é a corovina”. “É mesmo? Que coisa, né?”. “É isso mesmo, Zé! Até no posto da polícia rodoviária eles sempre me pedem um tabuleiro de corovina!”. “Olha só! Que danados de policiais!”.

                A novidade vem agora! Lendo a revista Pesquisa (Fapesp - setembro de 2016), me detive num artigo a respeito da pesca pré-histórica, baseado nos estudos de treze sambaquis do estado do Rio de Janeiro, entre Angra do Reis e Arraial do Cabo, com idade entre 5.600 e 700 anos. O material pesquisado levou os autores a terem uma ideia da quantidade, dos tamanhos e espécies que constituíam a base alimentar desses povos antigos. Legal, né? E tem mais: os vestígios recuperados nos sambaquis fluminenses atestam que a pesca era uma atividade dominante na região. E sabem qual a espécie com maior número de registros, provavelmente a mais intensamente capturada pelos pescadores-coletores desse trecho do litoral? Ela mesma! A corvina (Micropogonias furnieri)!    Ah, é!?! Está no D.N.A!!!  Então é por isso que os cariocas continuam fanáticos pelas corvinas!

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