Seo Martins, da Trindade, avô do nosso saudoso Elias. (Arquivo Trindadeiros) |
Na
década de 1990 eu tinha um amigo que fazia transporte de pescados de Ubatuba
para a cidade do Rio de Janeiro. Eram duas viagens que o Nelson fazia
semanalmente num caminhão (Mercedes Bens, modelo 1313, equipado com uma potente
câmara fria). Dizia: “Eu até já decorei essa estrada daqui para o Rio. Tem
lugares lindos: Paraty, Angra, Mangaratiba...”. Esta introdução já deu para
perceber que muito peixe era desembarcado no nosso Caisão e no atracadouro do
Saco da Ribeira.
Não
creio que muitos saibam que a corovina (corvina) não é um peixe preferencial na
dieta dos caiçaras de Ubatuba. Vovô Armiro explicava: “Corovina é peixe que numa
em época do ano tem cheiro forte e se enche de vermes. Por isso não presta. Saprezado
até que passa”. Tinha até um amigo do meu pai que, devido ao bafo forte que
exalava, tinha o apelido de Corovina. Já
a família Corovina, que morava no jundu, perto da Barra da Lagoa, próximo de
onde hoje é o aeroporto da cidade, nem sei o porquê dessa denominação. Assim, é
quase natural os ubatubanos torcerem o nariz para a corovina. Fiquei muito
admirado quando o Nelson me disse naquela ocasião: “Sabe de uma coisa, Zé, o
peixe que mais agrada os cariocas é a corovina”. “É mesmo? Que coisa, né?”. “É
isso mesmo, Zé! Até no posto da polícia rodoviária eles sempre me pedem um
tabuleiro de corovina!”. “Olha só! Que danados de policiais!”.
A
novidade vem agora! Lendo a revista Pesquisa (Fapesp - setembro de 2016), me
detive num artigo a respeito da pesca pré-histórica, baseado nos estudos de
treze sambaquis do estado do Rio de Janeiro, entre Angra do Reis e Arraial do
Cabo, com idade entre 5.600 e 700 anos. O material pesquisado levou os autores
a terem uma ideia da quantidade, dos tamanhos e espécies que constituíam a base
alimentar desses povos antigos. Legal, né? E tem mais: os vestígios recuperados
nos sambaquis fluminenses atestam que a pesca era uma atividade dominante na
região. E sabem qual a espécie com maior número de registros, provavelmente a
mais intensamente capturada pelos pescadores-coletores desse trecho do litoral?
Ela mesma! A corvina (Micropogonias furnieri)! Ah,
é!?! Está no D.N.A!!! Então é por isso
que os cariocas continuam fanáticos pelas corvinas!
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