terça-feira, 5 de julho de 2016

FEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - RELATOS (II)



Praia Mansa - Ilhabela (Arquivo JRS)
Eis o segundo relato da I Feira de Educação Ambiental. Boa leitura!

DE ÁRVORE E DE CANOA
                                            Marina Martins de Carvalho

Origem:
Na sala de professores da Escola Gabriel Ribeiro dos Santos (Ilhabela), no primeiro semestre de 1993, ouvi o comentário seguinte: “Aqui em Ilhabela havia, outrora, uma excelente madeira para fazer canoas; foi tão explorada, fizeram tantas canoas – até para vender no continente – que a árvore foi extinta; restam apenas alguns exemplares no outro lado da Ilha”.
Interessada nos problemas ambientais e sensibilizada pelos cursos da Fundação Living Earth – Vivendo a Terra – no Litoral Norte de São Paulo e pela recente implantação das escolas padrão, pensei logo que poderíamos fazer uma pesquisa para apurar a veracidade daquela informação e, eventualmente, promover o replantio da preciosa árvore neste lado da Ilha.
Expus o projeto às minhas alunas da 3ª série do Curso de Habilitação Específica para o Magistério. Elas se dispuseram a entrevistar pescadores, canoeiros, quaisquer moradores da Ilhabela que tivessem conhecimento do assunto. Eu já conseguira o nome de pessoas que estariam dispostas a conceder entrevistas e as professorandas conseguiram outros nomes.
As 33 alunas foram distribuídas em grupos de quatro, com uma coordenadora, entrevistaram 15 pessoas e apresentaram-me os oito relatórios que também foram utilizados pela professora de Língua Portuguesa (Yole), como nota de um bimestre.

Especificação da Pesquisa:
·        Pessoas entrevistadas:
José Antônio Matias dos Santos, 67 anos, pescador aposentado
Benedito Moraes Filho, 52 anos, taxista e canoeiro
Marco Rafael de Souza, marceneiro
Antonio Rafael de Souza, 74 anos, canoeiro
José Alves Passos, 59 anos, serviços gerais na Escola Maria Gemma
José Antonio S. Gonzalez, 40 anos, professor e artesão
Jessé Araujo dos Santos, 43 anos, gerente local da Cesp de Ilhabela
Paulo Rodrigues de Oliveira, 70 anos, canoeiro
José Romão, 54 anos, pescador
Pedro Basílio da Silva, marinheiro aposentado
José Leopoldino, trabalha na Sucem
Pedro Paulo, diretor da Secretaria de Meio Ambiente de Ilhabela
Pedro, 73 anos, canoeiro
Benedito Santana de Morais
Paulo Andrade Molinari, Presidente da Colônia de Pescadores de Ilhabela

·        Entrevistadoras:

Elaine, Simone, Alda, Ofélia; Marly, Márcia, Nereide, Caroline; Eliane, Ana Paula, Andréia, Elciléia; Cleidemara, Léia, Leonice, Fernanda C.; Wanessa, Carmen, Fernanda S.; Lídia, Darilene, Meire, Raquel; Luciana C., Marluce, Bianca, Renata; Luciana, Lilian, Priscilla, Tatiane.
·        Coordenadora: Maria Cristina
·        Local: Ilhabela, São Paulo
·        Época: Primeiro semestre do ano letivo de 1993
·        Organizadora: Profª Marina (Filosofia Educacional e Conteúdo e Métodos do Ensino de Estudos Sociais)

Análise dos Relatórios:
·  Árvores citadas:
Ingá, Figueira, Cedro, Guapuruvu, Jequitibá, Urucurana, Canela, Pequiá, Nogueira, Cabreúva, Louro, Vinhático, Jaqueira, Ipê, Coabirana, Noz moscada, Tamanqueira, Jacataúba, Tapiá, embiruçu, arariba, óleo branco, quabirana, içá, paina, angibins, sapupuva, abataria, bucuiba, ariticum, pau d’alho, gratauna, chapéu de sol, pau brasill, maçaranduba, indaiauba, mangueira (sugerida pelas entrevistadoras, mas descartada porque é “muito curta, só dá pra canoa pequena: não compensa”) e bataia.
Foram mencionadas duas madeiras próprias só para artesanato: a cupiúba (pouco resistente) e a caxeta (porque é mole).
Pelo menos em Ilhabela, com 51 espécies de árvores podemos fazer canoas, contando-se as variantes como ingá vermelho e ingá canela, figueira limão e figueira cipó etc.
Duas foram indicadas como a “mais usada”: a nogueira e o guapuruvu.
Só o jequitibá e o cedro foram classificados árvores ameaçadas de extinção.
Só uma contradição foi encontrada: sobre o pequiá. Dois depoentes disseram que essa árvore é contraindicada para canoas, mas outro elogia o pequiá contando que com um só tronco fez três canoas além de pequenos utensílios.
Além desses dados que serviram para elucidar a proposta da pesquisa, algumas outras informações paralelas foram recolhidas e poderão, no futuro, engendrar outros tipos de reflexão e atividades em benefício da comunidade.

Conclusão:
Aparentemente, os entrevistados não têm notícia do desaparecimento de árvore ligada  à confecção de canoas.
Dois deles disseram que houve derrubada indiscriminada de árvores de todos os tipos: um alegou que foi para a formação urbana da Vila e outro, para comercialização de canoas fora daqui e para fazer mesinhas, mourões, bancos, casas etc.
Outros dizem que ainda há muitas árvores nos morros e, hoje, há um controle severo da Polícia Florestal, cumprindo a lei que proíbe o abate de árvores.
Dois outros entrevistados até sugerem que a proibição do abate poderia ser amenizada, que cada caiçara deveria ter o direito de cortar uma ou duas árvores por ano.

Não se confirmou, portanto, a suspeita que deu origem a essa pesquisa. Missão cumprida.

As estudante que levaram cabo esse trabalho ampliaram sua experiência de vida e passaram a conhecer e interessar-se mais pelo ecossistema da Ilhabela. Na sua maioria, gostaram de realizar a pesquisa. Algumas procuraram saber mais detalhes sobre os entrevistados, sua vida na Ilha, suas opiniões, seu trabalho, a fabricação das canoas. Tiveram a oportunidade de apreciar as condições de controle do abate de árvores, a exigência do plantio de uma muda para cada exemplar adulto derrubado, o que deixa claro a preocupação do legislador com a preservação do ambiente. Obtiveram informações sobre o passado de sua comunidade, a festa de lançamento da canoa ao mar, as modinhas, a oxaria; o comércio da Ilha que mandava para o continente canoas abarrotadas de produtos naturais.
Também os entrevistados gostaram de participar da atividade.

Um dos grupos de alunas foi levado pra ver de perto um pequiá jovem e até planeja fazer um filme sobre árvores.

4 comentários:

  1. Ola Jose Ronaldo ! Posso usar esta postagem na pagina facebook Coisas de Caiçara
    At. Pedro Caetano

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  2. Parabéns aos envolvidos no projeto e claro à você Zé pela divulgação. Ótimo registro sobre o tema.

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    1. Obrigado, Claudinho! São pessoas assim que animam a nossa profissão. Um forte abraço. Até.

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