Praia Mansa - Ilhabela (Arquivo JRS) |
DE ÁRVORE E DE CANOA
Marina
Martins de Carvalho
Origem:
Na sala de professores da Escola
Gabriel Ribeiro dos Santos (Ilhabela), no primeiro semestre de 1993, ouvi o comentário
seguinte: “Aqui em Ilhabela havia, outrora, uma excelente madeira para fazer
canoas; foi tão explorada, fizeram tantas canoas – até para vender no
continente – que a árvore foi extinta; restam apenas alguns exemplares no outro
lado da Ilha”.
Interessada nos problemas
ambientais e sensibilizada pelos cursos da Fundação Living Earth – Vivendo a
Terra – no Litoral Norte de São Paulo e pela recente implantação das escolas
padrão, pensei logo que poderíamos fazer uma pesquisa para apurar a veracidade
daquela informação e, eventualmente, promover o replantio da preciosa árvore
neste lado da Ilha.
Expus o projeto às minhas alunas
da 3ª série do Curso de Habilitação Específica para o Magistério. Elas se
dispuseram a entrevistar pescadores, canoeiros, quaisquer moradores da Ilhabela
que tivessem conhecimento do assunto. Eu já conseguira o nome de pessoas que estariam
dispostas a conceder entrevistas e as professorandas conseguiram outros nomes.
As 33 alunas foram distribuídas
em grupos de quatro, com uma coordenadora, entrevistaram 15 pessoas e
apresentaram-me os oito relatórios que também foram utilizados pela professora
de Língua Portuguesa (Yole), como nota de um bimestre.
Especificação
da Pesquisa:
·
Pessoas entrevistadas:
José Antônio Matias dos Santos,
67 anos, pescador aposentado
Benedito Moraes Filho, 52 anos,
taxista e canoeiro
Marco Rafael de Souza, marceneiro
Antonio Rafael de Souza, 74 anos,
canoeiro
José Alves Passos, 59 anos,
serviços gerais na Escola Maria Gemma
José Antonio S. Gonzalez, 40 anos,
professor e artesão
Jessé Araujo dos Santos, 43 anos,
gerente local da Cesp de Ilhabela
Paulo Rodrigues de Oliveira, 70
anos, canoeiro
José Romão, 54 anos, pescador
Pedro Basílio da Silva,
marinheiro aposentado
José Leopoldino, trabalha na Sucem
Pedro Paulo, diretor da
Secretaria de Meio Ambiente de Ilhabela
Pedro, 73 anos, canoeiro
Benedito Santana de Morais
Paulo Andrade Molinari,
Presidente da Colônia de Pescadores de Ilhabela
·
Entrevistadoras:
Elaine, Simone, Alda, Ofélia;
Marly, Márcia, Nereide, Caroline; Eliane, Ana Paula, Andréia, Elciléia; Cleidemara,
Léia, Leonice, Fernanda C.; Wanessa, Carmen, Fernanda S.; Lídia, Darilene,
Meire, Raquel; Luciana C., Marluce, Bianca, Renata; Luciana, Lilian, Priscilla,
Tatiane.
·
Coordenadora: Maria Cristina
·
Local: Ilhabela, São Paulo
·
Época: Primeiro semestre do ano letivo de 1993
·
Organizadora: Profª Marina (Filosofia
Educacional e Conteúdo e Métodos do Ensino de Estudos Sociais)
Análise
dos Relatórios:
· Árvores citadas:
Ingá, Figueira, Cedro, Guapuruvu,
Jequitibá, Urucurana, Canela, Pequiá, Nogueira, Cabreúva, Louro, Vinhático,
Jaqueira, Ipê, Coabirana, Noz moscada, Tamanqueira, Jacataúba, Tapiá, embiruçu,
arariba, óleo branco, quabirana, içá, paina, angibins, sapupuva, abataria,
bucuiba, ariticum, pau d’alho, gratauna, chapéu de sol, pau brasill,
maçaranduba, indaiauba, mangueira (sugerida pelas entrevistadoras, mas
descartada porque é “muito curta, só dá pra canoa pequena: não compensa”) e
bataia.
Foram mencionadas duas madeiras
próprias só para artesanato: a cupiúba (pouco resistente) e a caxeta (porque é
mole).
Pelo menos em Ilhabela, com 51
espécies de árvores podemos fazer canoas, contando-se as variantes como ingá
vermelho e ingá canela, figueira limão e figueira cipó etc.
Duas foram indicadas como a “mais
usada”: a nogueira e o guapuruvu.
Só o jequitibá e o cedro foram
classificados árvores ameaçadas de extinção.
Só uma contradição foi encontrada:
sobre o pequiá. Dois depoentes disseram que essa árvore é contraindicada para
canoas, mas outro elogia o pequiá contando que com um só tronco fez três canoas
além de pequenos utensílios.
Além desses dados que serviram
para elucidar a proposta da pesquisa, algumas outras informações paralelas
foram recolhidas e poderão, no futuro, engendrar outros tipos de reflexão e
atividades em benefício da comunidade.
Conclusão:
Aparentemente, os entrevistados
não têm notícia do desaparecimento de árvore ligada à confecção de canoas.
Dois deles disseram que houve
derrubada indiscriminada de árvores de todos os tipos: um alegou que foi para a
formação urbana da Vila e outro, para comercialização de canoas fora daqui e
para fazer mesinhas, mourões, bancos, casas etc.
Outros dizem que ainda há muitas
árvores nos morros e, hoje, há um controle severo da Polícia Florestal,
cumprindo a lei que proíbe o abate de árvores.
Dois outros entrevistados até
sugerem que a proibição do abate poderia ser amenizada, que cada caiçara
deveria ter o direito de cortar uma ou duas árvores por ano.
Não se confirmou, portanto, a
suspeita que deu origem a essa pesquisa. Missão cumprida.
As estudante que levaram cabo
esse trabalho ampliaram sua experiência de vida e passaram a conhecer e
interessar-se mais pelo ecossistema da Ilhabela. Na sua maioria, gostaram de
realizar a pesquisa. Algumas procuraram saber mais detalhes sobre os
entrevistados, sua vida na Ilha, suas opiniões, seu trabalho, a fabricação das
canoas. Tiveram a oportunidade de apreciar as condições de controle do abate de
árvores, a exigência do plantio de uma muda para cada exemplar adulto
derrubado, o que deixa claro a preocupação do legislador com a preservação do
ambiente. Obtiveram informações sobre o passado de sua comunidade, a festa de
lançamento da canoa ao mar, as modinhas, a oxaria; o comércio da Ilha que
mandava para o continente canoas abarrotadas de produtos naturais.
Também os entrevistados gostaram
de participar da atividade.
Um dos grupos de alunas foi
levado pra ver de perto um pequiá jovem e até planeja fazer um filme sobre
árvores.
Ola Jose Ronaldo ! Posso usar esta postagem na pagina facebook Coisas de Caiçara
ResponderExcluirAt. Pedro Caetano
Lógico, meu irmão! Um abraço.
ExcluirParabéns aos envolvidos no projeto e claro à você Zé pela divulgação. Ótimo registro sobre o tema.
ResponderExcluirObrigado, Claudinho! São pessoas assim que animam a nossa profissão. Um forte abraço. Até.
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