Dia de farinhada (Arquivo JRS) |
Admiro
as pessoas que têm facilidade para fazer poesias porque, quase sempre, de forma
inusitada, dizem em poucas palavras o que longas reflexões deixam a desejar.
A
nossa terra, na nossa cultura caiçara, “tem uns pares de gente assim” que muito
nos edificam. Alguns escrevem em seus espaços privativos, tal como os
anacoretas em seus retiros. É o caso do estimado José Carlos, o Góis; outros
estão no meio da multidão, na labuta que sustenta o cotidiano. O prezado
Santiago, conforme vou acompanhando suas atividades, deixa antever de onde brota
suas inspirações: da natureza e da vida em comunidade. Agora mesmo, tendo a
imagem de seu grupo plantando no morro do Camburi, reflito um desapontamento
com parte dessa nova geração do povo do meu lugar.
Passando
um dia na praia do Camburi, dei sorte de encontrar alguns caiçaras para
conversar. Prosa é comigo mesmo! Quem me conhece sabe que eu adoro histórias
(que é sempre, em qualquer lugar, a vida da comunidade). Algumas mulheres e
apenas um homem que trabalhavam por ali assim narraram:
“Hoje
é dia de mutirão na comunidade. Já é dia fixo; todos sabem. A gente carpe os
caminhos, aterra buracos, arruma cercas, cuida da cemitério, planta árvores e
flores. É o nosso lugar, a gente vive aqui, né? Tem que ser um lugar bom. Pode
ser mais bonito ainda. Mas somos sempre nós, estas mesmas pessoas que você tá
vendo. Mas o nosso lugar tem bastante gente. Tem sempre alguém que sempre
inventa alguma coisa para fazer na cidade, para deixar de comparecer neste
nosso compromisso marcado em reunião da comunidade.
Nenhum jovem participa, mas eles sabem que é
para eles mesmos, pra todos nós que nascemos e moramos aqui. Parece que sentem
vergonha de serem pobres, de serem deste lugar. E tem mais: pensa que eles sabem pescar, trabalhar na roça, fazer
farinha?!? Essa geração nova não quer saber de nada disso. Morrendo os mais
velhos, se acaba tudo. Se acaba o nosso jeito caiçara de viver, de aproveitar
da vida. Essa gente nova quer se parecer com o pessoal de fora, com os
turistas. Essa coisa foi chegando depois que passou a estrada”.
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