Canoa caiçara no Itaguá (Arquivo JRS) |
"Hoje infelizmente recebo a notícia que meu grande amigo e Mestre Caiçara, o Tião Lourenço, faleceu". Eu digo o mesmo, Peter. Por isso compartilho a sua matéria a respeito desse grande, tímido e habilidoso cidadão da nossa terra. Parabéns pelo texto de sincera homenagem!
O Tião (3/8/1945 - 28/04/2016), gente simples, honrado e trabalhador, eu tive a honra de conhecer na década de 1970, quando a minha família morava no Perequê-mirim. Ele se tecia por ali, assim como o Sabá, o Odócio, o Teteco, o Maneco Antunes, o Fabiano, a Maria Dornelas, o Almeidinha, a Dorcelina, a dona Celeste, o Zé da Nhanhã, o Angelino Roseno e toda a caiçarada de então. Mais tarde, após o casamento da Cida com o Clementinho, tive a honra de ser parte da sua família.
Mais um arquivo vivo da cultura caiçara de Ubatuba nos deixou, uma enorme biblioteca de memórias haliêuticas [arte da pesca] que se perdeu.
Tive o privilégio de conviver como Tião por mais de 10 anos e aprender com ele uma ínfima partezinha de tudo o que ele sabia. Provar o bacupari, aprender a colocar o sobrenício, fazer um alegre, tentar entender o responso, o carvão vivo da fogueira de São João e a pedra de cevá.
Quantas histórias misteriosas de ouro encantado, boi-tá-tá, assombração ele me contava com tanta vivacidade que seria impossível que não fossem verdade.
Tive ainda a sorte de poder registrar em vídeos e áudios muitos destes fragmentos.
Em nosso último encontro, já no hospital, levei-lhe 15 páginas de transcrições retiradas de quase duas horas de gravação: "Dá quase um livro Tião!" lhe falei. (Apenas 2 horas, 15 páginas, quanto não daria 60 anos de sabedoria!?)
Nesse dia pude dar-lhe um forte abraço sem o gosto de despedida, mas de um até breve.
Até breve Tião, muito obrigado por me tornar um ser humano muito melhor do que eu era antes de te conhecer.
FONTE: canoadepau. blogspot.com