sábado, 3 de maio de 2025

LUZ ACESA

Serão caiçara - Arquivo JRS 

  

    Já tinha anoitecido quando fui seguindo a rua principal do Sapê, o bairro onde nasci. Naquele tempo o final dela era justamente no terreiro do vovô Estevan e da vovó Martinha, onde brincávamos, colhíamos frutas, fazíamos fogueiras, tomávamos banho no rio etc. Depois dali era o território chamado por todos como Queimada. Com o advento do turismo, não demorou muito para tudo aquilo, até divisa com a praia da Lagoinha, virar um grande loteamento. Também foi rápida a ocupação, inclusive da vargem. Hoje está muito feio aquele pedaço do meu berço original. Há anos que aquele lugar produz muito esgoto, está contaminando tudo e percorrendo as veias que deságuam no canto da praia da Maranduba. Eu seguia pensando tudo isto enquanto se aproximava do chão outrora cultivado pelos meus avós  e seus filhos. Atualmente somente o tio Dito Félix e familiares moram ali. Resistem, né? 

       Voltando ao meu momento: era noite fechada quando eu passava defronte da casa do tio. Da rua, pela porta aberta, eu avistei a luz acesa na sala. Tudo estava em silêncio; não tinha ninguém à vista. Em sagrado silêncio aquele espaço continuou porque eu apenas estava de passagem, indo em direção ao Sertão do Ingá, onde haveria uma cantoria de reis na casa dos irmãos Mané e Toninho. Pensei na hora: “Hoje o tio e seu pessoal não irão no evento e farão muita falta nas vozes e nos instrumentos. Nesta noite a nossa prosa não será tão animada”. 

      Era noite sem luar. Somente na casa do meu querido tio havia uma luz acesa. Dali em diante era trilha escura pela mata que a todos servia.

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