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Jonas na barriga da baleia - Mosaico em Aparecida |
Dito cortava pedras, meu pai era carpinteiro. Eram caiçaras e amigos de profissão, de bar, de pescaria e de diversão. Em casa de ambos a prole era grande, impensável nos dias de hoje. “Frajola”, o caçula do Dito, foi quem mais conviveu comigo. Ele deveria saber que nossos pais eram, da maneira deles, resistentes à ditadura militar. Prova disso eram as poucas reuniões de bairro para discutir os problemas que precisavam ser às escondidas em meados da década de 1970. Eles se faziam presentes.
“Frajola” começou a frequentar grupo de jovens da igreja católica, mas logo desistiu. De repente, com a chegada de uma igreja missionária, criada por um pastor português vindo de Angola, onde a revolução proclamou a independência daquele país, o meu amigo de anos virou “evangélico”. Veio com papos estranhos, defendendo os militares que detinham o poder no nosso país, que essa era a vontade de Deus, que deveríamos nos conformar e fazer de tudo para merecer o céu etc. Será que era essa a mensagem do líder evadido? Foi o que bastou para eu me afastar, não querer essa influência. O pastor enriqueceu em poucos anos, trocou de esposa.
Meu pai e o estimado Dito são falecidos. Não sei se o pastor ainda está por este mundo. Dias desses avistei o “Frajola” na rodoviária. Aparentemente está bem, mas não enriqueceu. Se aproximou de mim, deu um sorriso sem graça e disse uns agrados vazios. Eu apenas respondi: “Seguimos na luta”. Ele me perguntou: “E a política?”. Aí eu expliquei que tudo é política, inclusive a decisão de colocar lixeiras nas vias públicas, limpar o mato das calçadas da cidade, cuidar da saúde, da educação, do esgoto, da água etc. Ele pretendeu entrar no assunto sobre ditadura, defendendo os terroristas que assaltaram Brasília e depredaram tudo. Na hora cortei o rumo do falso patriota com apenas uma frase: “Pode parar. Vai estudar e aprender a fazer reflexões sérias. Tenha como exemplo mínimo os nossos antigos que, mesmo sem estudo e com poucas reflexões, não se perderam demais no mar da vida, nem apoiaram ditadores”. Ele se afastou porque não lhe dei mais atenção. Depois refleti: desde aquele tempo, na nossa juventude, ele está recebendo só mensagens reacionárias (da igreja, da imprensa e das redes sociais da atualidade). Como poderia ser diferente o seu pensamento? Vai morrer reacionário mesmo! Vai achar normal todas as coisas erradas visíveis na nossa cidade, na realidade brasileira. O coitado vai ficar na caverna e matar quem lhe disser que há outras possibilidades de vida além dessa destruição abrangente patrocinada por milionários e seus aliados miseráveis (incluindo gente do nosso povo que agora vive nos fundões, pelas grimpas dos morros etc.). Termino esta com uma frase de Malcom X: “Se você não for cuidadoso, a imprensa fará você odiar os oprimidos e amar os opressores”. Pois é, né? Só que, atualmente, a maioria das igrejas parece ser a principal força nessa direção. Triste demais.
Triste demais, Zé! Triste de dar desânimo!
ResponderExcluirTriste demais! Enquanto isso vemos a exploração se aperfeiçoar, garrotear as novas e futuras gerações.
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