quinta-feira, 12 de outubro de 2023

EM ROMARIA, DE MÃOS DADAS

 



Imagens da Via Dutra - Arquivo JRS


      Seguia eu e esposa pela Via Dutra, entre as cidades de Aparecida e Taubaté. Tempo bom, ensolarado, com muita gente em romaria. Afinal, dia 12 de outubro é feriado nacional, dia santo aos católicos (Dia de Nossa Senhora Aparecida).

     As imagens passavam voando pelo janela do carro, mas eu conseguia captar detalhes: andor enorme com imagem da santa, indivíduos carregando pequenas imagens apoiadas nas barrigas, gente carregando cruzes dos mais diversos tamanhos, pontos de apoio aos caminhantes, ciclistas com suas bandeiras etc. Porém, o que mais atraiu a minha atenção era o número de pessoas andando de mãos dadas: homem com mulher, mulher com mulher, homem com homem... Hoje, provavelmente estão felizes em suas metas. Depois, retornam às suas cidades, às suas lidas. Felizes daqueles que têm casas para acolhê-los novamente. Como é bom estar de volta à casa depois de uma andança pelo mundo! Neste momento sinto as dores de um povo que está fadado a desaparecer: os palestinos. Os países poderosos, desde a metade do século passado, se omitiram em garantir a existência da pátria palestina. O que existiu desde então foi um campo de concentração entre o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo. A imprensa dominante, tal como vivemos na experiência brasileira, omite os fatos e as verdades que podem favorecer, fazer justiça aos oprimidos. Assim, a maioria das pessoas continua se desinformando por mentiras que abundam nas redes sociais, nas pregações de púlpitos, em professores alienados ministrando suas aulas etc. Creio que o amigo Pires, nosso artista de Ubatuba, ontem, na Fonte da Amizade, resumiu bem: “O nível cultural da nossa gente regrediu muito! Me  enoja ainda ver tanta gente defendendo armas, apoiando genocida, querendo a volta dessa raça imbecil, cheia de maldades”.

    Voltando ao título deste, quantas pessoas portando bandeiras, camisetas com a santa estampada, cruzes etc. continuam discriminando homossexuais, prostitutas, gente preta, indígenas, pobres, moradores e andarilhos por este país afora? Quanto desses romeiros estão achando um espetáculo os bombardeios sobre a Faixa de Gaza agora? E o que dizer desses “cristãos” favoráveis ao Marco Temporal, ao fim da união civil entre pessoas de mesmo sexo, ao uso indiscriminado de agrotóxicos em nossos alimentos, à perseguição aos movimentos organizados da sociedade civil (MST, MTST, sindicatos etc.)? Pior ainda são aquelas pessoas ditas “patriotas”, apoiadoras de lideranças que defendem abertamente políticas excludentes, contra os oprimidos da NOSSA PÁTRIA, onde a referência é o homem branco e rico. Muito piores são aqueles que, na próxima semana, estarão em suas rotinas explorando quem convive consigo, quem trabalha em suas empresas, em suas fazendas etc.

    Ao ver essa gente caminhando de mãos dadas, imagino que levam como maior esperança a vitória de uma sociedade democrática, solidária, respeitosa, de iguais oportunidades independente de etnia, cor da pele, idade, opção sexual e religiosa. Espero que cada uma dessas pessoas reflita sobre o engajamento que só ela pode ter. Considerando a imagem preta salva das águas barrentas do rio Paraíba e tornada ícone nacional dos católicos, a batalha contra a discriminação pela cor da pele deveria ser a primeira bandeira de luta em nosso país. Afinal, por séculos, a mão de obra de escravizados negros garantiu a riqueza deste chão. Jesus, filho de Maria (Aparecida), era semita tostado pelo sol do Oriente Médio. Era judeu. Se é verdade o que se escreveu dele, duvido que o mesmo aprovaria as perseguições ao povo palestino (semita), às minorias que estão em romaria perpétua pelo Brasil e no mundo afora. Que tal darmos as mãos a tanta gente que nem tem a alegria de uma companhia em suas vias sacras?


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