Imagens da Via Dutra - Arquivo JRS |
Seguia eu e esposa pela Via Dutra, entre
as cidades de Aparecida e Taubaté. Tempo bom, ensolarado, com muita gente em
romaria. Afinal, dia 12 de outubro é feriado nacional, dia santo aos católicos
(Dia de Nossa Senhora Aparecida).
As imagens passavam voando pelo janela do
carro, mas eu conseguia captar detalhes: andor enorme com imagem da santa, indivíduos
carregando pequenas imagens apoiadas nas barrigas, gente carregando cruzes dos
mais diversos tamanhos, pontos de apoio aos caminhantes, ciclistas com suas
bandeiras etc. Porém, o que mais atraiu a minha atenção era o número de pessoas
andando de mãos dadas: homem com mulher, mulher com mulher, homem com homem... Hoje, provavelmente estão felizes em suas metas.
Depois, retornam às suas cidades, às suas lidas. Felizes daqueles que têm casas
para acolhê-los novamente. Como é bom estar de volta à casa depois de uma
andança pelo mundo! Neste momento sinto as dores de um povo que está fadado a
desaparecer: os palestinos. Os países poderosos, desde a metade do século
passado, se omitiram em garantir a existência da pátria palestina. O que
existiu desde então foi um campo de concentração entre o Mar Morto e o Mar
Mediterrâneo. A imprensa dominante, tal como vivemos na experiência brasileira, omite os fatos e as verdades que podem favorecer, fazer justiça aos
oprimidos. Assim, a maioria das pessoas continua se desinformando por mentiras
que abundam nas redes sociais, nas pregações de púlpitos, em professores
alienados ministrando suas aulas etc. Creio que o amigo Pires, nosso artista de Ubatuba, ontem, na
Fonte da Amizade, resumiu bem: “O nível
cultural da nossa gente regrediu muito! Me
enoja ainda ver tanta gente defendendo armas, apoiando genocida, querendo a volta dessa raça imbecil, cheia de maldades”.
Voltando ao título deste, quantas pessoas
portando bandeiras, camisetas com a santa estampada, cruzes etc. continuam discriminando homossexuais, prostitutas, gente preta, indígenas, pobres,
moradores e andarilhos por este país afora? Quanto desses romeiros estão
achando um espetáculo os bombardeios sobre a Faixa de Gaza agora? E o que dizer
desses “cristãos” favoráveis ao Marco Temporal, ao fim da união civil entre
pessoas de mesmo sexo, ao uso indiscriminado de agrotóxicos em nossos
alimentos, à perseguição aos movimentos organizados da sociedade civil (MST,
MTST, sindicatos etc.)? Pior ainda são aquelas pessoas ditas “patriotas”, apoiadoras
de lideranças que defendem abertamente políticas excludentes, contra os
oprimidos da NOSSA PÁTRIA, onde a referência é o homem branco e rico. Muito
piores são aqueles que, na próxima semana, estarão em suas rotinas explorando quem convive
consigo, quem trabalha em suas empresas, em suas fazendas etc.
Ao ver essa gente caminhando de mãos dadas,
imagino que levam como maior esperança a vitória de uma sociedade democrática,
solidária, respeitosa, de iguais oportunidades independente de etnia, cor da
pele, idade, opção sexual e religiosa. Espero que cada uma dessas pessoas reflita
sobre o engajamento que só ela pode ter. Considerando a imagem preta salva das
águas barrentas do rio Paraíba e tornada ícone nacional dos católicos, a batalha contra a discriminação pela cor da pele deveria ser a primeira bandeira de luta em
nosso país. Afinal, por séculos, a mão de obra de escravizados negros garantiu
a riqueza deste chão. Jesus, filho de Maria (Aparecida), era semita tostado
pelo sol do Oriente Médio. Era judeu. Se é verdade o que se escreveu dele, duvido que o mesmo aprovaria as perseguições
ao povo palestino (semita), às minorias que estão em romaria perpétua pelo Brasil e no
mundo afora. Que tal darmos as mãos a tanta gente que nem tem a alegria de uma
companhia em suas vias sacras?
Bela sugestão, Zé!
ResponderExcluirAgradeço muito a você e a tantos que atentam aos meus simples textos. Abraços.
Excluir