quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

MAR GROSSO


Caiçara ao mar - Arquivo Louzada

       Por estes dias o mar tá grosso e a chuva persiste. A arrebentação vem lá fora, tudo crespo, uma ronqueira só. Pegou maré cheia, não vaza, mas mesmo assim tem tantos turistas que chega a deixar o trânsito na rodovia quase parando. Agora começa um desgaste para todo mundo, sobretudo para quem trabalha e depende de transporte público, de ônibus. São horas perdidas na espera, principalmente quando está voltando para casa depois de um período cansativo na labuta. Na temporada passada, um motorista de ônibus me disse que num horário para Caraguatatuba, distante cinquenta quilômetros, o percurso demorou oito horas. (Geralmente demora duas horas). Sofreu ele, sofreram os passageiros. 

     "É mar grosso, meu amigo". Assim expressou um caiçara que enfrentava o mesmo dilema que eu em viagem desta semana, quando a lentidão no trânsito nos atrasou na viagem em quarenta minutos. E olha que a temporada nem começou! Sugestões ao problema sazonal não faltam. Deveria ser criado um corredor destinado aos ônibus que operam no município, outras vias alternativas poderiam ser construídas, a travessia dos pedestres nos trechos que beiram as praias precisa ser disciplinada etc.  Certamente outras possibilidades precisam ser pensadas e encampadas por quem está na função de gestão do município. Só precisa de vontade política e coragem. Mas vontade política quem faz é nós! É a população que pode atuar nos rumos, nas direções políticas da sociedade! É o que chamamos de pressão, de participação popular. Afinal, são os cidadãos que  sustentam a classe política. A maioria que trabalha contribui entre 30 e 40% nos impostos (Previdência, IPTU, IPVA...), enquanto os mais ricos aumentam seus lucros e contribuem com menos impostos, obtêm descontos ou são perdoados em suas dívidas. O mar tá grosso!  
    Além dos imprevistos, tem os previstos que podem ser remediados ou resolvidos. Eu proseava assim com o Agenor, um velho marinheiro, quando ele puxa esta pérola de sabedoria caiçara: "Vamos torcer para não surgir uma jamanta por debaixo da canoa. Imagine um bicho de mais de metro de largura por mais de dois de comprimento querendo brincar agora com a embarcação! Se voar perto alaga a gente. Num mar desse, com gente nem sabendo nadar, vai dar no quê?". Por isso eu repito sempre: "É preciso que a gente busque entender e se interesse por política. Só assim as coisas podem melhorar". É  isto:  o mar tá grosso, mas a gente sabe se virar bem. Basta querer!

Em tempo: quando eu avisto um mar bravo logo me recordo do saudoso Tio Chico que em qualquer canoa enfrentava as grandes ondas, as piores ressacas. E sempre remando de pé! Lidar no mar era o seu ambiente natural. Quando estava em terra, parecia deslocado, perdido. Hoje percebo que mais gente nossa se sente assim. Coisas de caiçara, né?

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