Nossas raízes tupinambá - Arte: Eudes Cavalcante |
sábado, 30 de abril de 2022
A LÍNGUA PROIBIDA QUE NOS FEZ POVO
terça-feira, 26 de abril de 2022
RIQUEZA DE SAUDADES
Em meio à natureza - Arquivo JRS
Do poema do mano Mingo, junto com a claridade do Sol no horizonte daqui a pouco, vem os momentos de pensar o que é riqueza.
Das riquezas
Meu avô não era pobre,
pobre sou eu que nem tenho
casa de caiçara no meio do bananal
e mais uma cachoeira de águas cantantes
cantando a canção do princípio da vida.
Tampouco tenho um ranchinho
com canoas e redes de pescar
o que o oceano tem para ofertar.
O que eu tenho, tão somente,
é uma riqueza de saudades.
sexta-feira, 22 de abril de 2022
MOLÉSTIAS MENTAIS
O saudoso Zé Carlos agora virou escola - Arquivo JRS |
terça-feira, 19 de abril de 2022
UM SANTO CAIÇARA
A rabeca do tio Dário - Arquivo JRS |
Elias, o nosso santo - Arquivo JRS |
O estimado primo Elias cumpriu muito bem o seu tempo de ser vivente nesta Terra. Deu o melhor que alguém pode dar: bondade, paz, lealdade, justiça, simplicidade e pureza de coração. Com seu talento embalou inesquecíveis momentos, sobretudo ponteando os chorinhos no cavaquinho. Com sua simplicidade contava histórias de outros tempos registradas na memória, vivenciadas e/ou aprendidas da mãe e do pai.
No meu tempo de criança, já contei aqui, eu adorava atravessar um eito de mato para chegar à casa do tio Dário e da tia Maria para escutar aqueles momentos musicais que eles (a família Alves Barreto: tio Dário, tia Maria, Elias, Toninho e Ditinho) improvisavam na sala daquela casa, no morro da Fortaleza, nos finais de tardes. Eram os nossos vizinhos mais próximos. Violão, viola, rabeca, pandeiro e cavaquinho se inteiravam no acompanhamento das músicas quase sempre puxadas pela titia. Eu me acomodava numa canoa velha com redes dentro que ficava encostada junto a uma das paredes. Confesso que nunca mais vi isso, esse móvel singular, em nenhuma outra casa caiçara.
“Eliazinho”, conforme chamava a tia Maria, era o mais velho dos filhos. Por ser tocador, assim como os irmãos, estava sempre nos momentos importantes da comunidade (cantoria de reis, oração na capela, bailes, rodas de cantoria na praia etc.). Toda essa gente, bem como outros tantos daquele tempo, tocavam “de ouvido”, aprenderam com os mais velhos, nunca tiveram chance de estudar nenhuma teoria musical. Sempre me recordo de noites de cantoria na praia da Fortaleza, quando rapazes e moças debulhavam músicas na areia, no lagamar, quase sempre acompanhadas de instrumentos de cordas, atabaque, pandeiro e agogô. Por volta das 22:00 horas já era tarde, estávamos sonolentos e precisávamos descansar para as atividades do dia seguinte. Alguns se despediam dali mesmo; outros seguiam juntos, se separando pelo caminho conforme chegavam em suas casas. Nem os cachorros latiam de tão acostumados que estavam. Alguns deles até se estiravam rente do grupo, parecendo aproveitar da cantoria na areia fofa.
Jovem ainda o Elias contraiu a doença que o acompanharia pelo resto da vida. Vivia sob remédios, não podia fazer muito esforço físico e nem abusar do sereno, chuva e sol. Mas nunca deixou de ter próximo de si os instrumentos. Eu nunca ouvi uma palavra ruim, um comentário maldoso que saísse da boca do querido Elias. Por isso sempre acreditei que ele era um homem santo.
A rabeca que pertenceu ao tio Dário está agora sob nossos cuidados. Foi presente dos irmãos ao meu filho Estevan. A cada vez que eu ouvir o seu som saindo do quarto, vou me recordar das vezes que presenciei alguém da família Alves Barreto me proporcionando uma elevação pela música. De todas as oportunidades que vivemos juntos, a bondade, o talento musical e os acordes de seus instrumentos são os que se destacam e o imortalizam. O primo Elias foi um modelo de caiçara marcante. Sigamos seu espírito.
domingo, 17 de abril de 2022
O SOLDADO SITIADO
Saco da Ribeira por volta de 1973 - Arquivo Postal |
sexta-feira, 15 de abril de 2022
NOSSA MATA
"É bacupari, Má!" - Arquivo JRS |
quarta-feira, 13 de abril de 2022
FOGÃO DE LENHA CAIÇARA
Vivo na imaginação,
Imagem da lenha embaça
No espiral da fumaça
Que sai do velho fogão,
Fogão de lenha caiçara
És uma peça tão rara
Na parede da cozinha,
Ornamentando o cantinho
Um pedaço de toucinho
Mais a ova da tainha,
A madeira do braseiro
Pedaços de espinheiro
Aquecendo essa saudade,
Família inteira reunida
À espera da comida
Com ar de felicidade,
No fogão a caçarola
O apetite consola
Já está pronto o pirão,
Antes da ceia uma prece
É o caiçara que agradece
A oferenda do pão,
Dá água na boca da gente
Mais água que rio corrente
Mais água que o imenso mar,
Faz gosto a recordação
Das memórias dum fogão
Caiçara deste lugar,
Na manhã recém chegada
Café com banana assada
Peixe frito com farinha,
Era assim até que um dia
Veio a tecnologia
Levar o que gente tinha,
Mas no retrato da mente
Vive a imagem transcendente
Dessa cultura nativa,
Parece que há ranchinho
E um fogão lá no cantinho
Em brasa vermelha viva!!!
quinta-feira, 7 de abril de 2022
OBSERVAÇÕES INGÊNUAS
Azulejões em Inhotim - Arquivo JRS |
Busquei uma sombra onde descansar e olhar o mar. Mais ao longe estão os homens que cultivam mariscos nas cordas das linhas de boias. Bem perto um rio fedorento se espalha entre plásticos e outros lixos no lagamar. Pensei no descaso das autoridades, sobretudo nos cortes de verbas para a educação e cultura. Qual sociedade se desenvolve com ignorância?
Essa ideia mal resolvida
Essa gente má
Mistura de milicianos
E fanáticos crentes
Cimentados com ignorância
E ruindades em geral.
É, este país vai mal!
segunda-feira, 4 de abril de 2022
A ÁGUIA DO MAR
Pescaria no Itaguá - Arquivo Postal |
Isaac, pescador de costeira, aceitara o convite para uma pescaria em alto mar. "Quando?" - eu quis saber. "Já faz um ano isso. Só que foi uma vez para nunca mais. A primeira e única!". Logo eu deduzi que a experiência não tinha sido boa. "O que será que aconteceu?" - Pensei, mas nem precisei inquirir o amigo. Puxando um banquinho dali de perto me sentei, pois bem conheço o cidadão, no seu estilo que se assemelha ao Zé Roseno (aquele que, mesmo se dizendo com pressa, ainda proseava no mínimo uma hora antes de se despedir). Eis o relato que me deixou impressionado:
"Nós fomos longe, Zé: uma hora mar afora depois da Ilhabela. Naquela ocasião é que eu soube ser ali rota de navio, desses monstruosos que aportam no porto de São Sebastião. Chegamos no local ao entardecer. Assim que a embarcação foi fundeada e começamos a pescar, o piloto 'desmaiou' porque vinha de uma semana corrida, fazendo viagens demais. A noite foi chegando; o escuro vinha com uma mensagem que se ouvia no rádio de bordo: 'Águia do mar saiam da rota do navio...Águia do mar saiam da rota do navio...Águia do mar saiam da rota do navio...' E a mensagem se repetia a pequenos intervalos. Quando eu fui repor isca no anzol, li no bote o nome do barco: Águia do Mar. Então me assustei. Aquela mensagem era para nós, Subi na casaria para enxergar mais longe, além das grandes marolas (comum em alto mar). Nossa! Lá se aproximava aquele mundão espalhando água para os lados. Gritei, corri para acordar o timoneiro. Quem disse que o homem acordava? Alguém, também desesperado, teve a ideia de encher um balde com água do mar e jogar nele. Só assim mesmo! Ao se inteirar do perigo, deu a partida enquanto eu suspendia a âncora ao menos alguns metros. E o motor poc, poc, poc, poc... foi nos tirando do caminho, mas os perigos nos perseguiam, as marolas gigantes nos alcançaram. Quando o navio passou, aí que veio a verdadeira onda, lavando totalmente o convés daquele barquinho, carregando tudo que havia por ali e lançando ao mar. Foi tudo fora. O meu patrão gritou ao piloto: 'Você tem dez minutos para chegar na praia das Cigarras senão nós o matamos aqui mesmo'. Ao chegar na praia, a proprietária do barco já estava lá. Certamente recebera notificação pela polícia marítima. Nós deixamos imediatamente o local, pois ela disse que primeiro precisava conversar com ele - o piloto - para depois ouvir a nossa versão. Eu não fiquei; fui imediatamente embora, ainda tremendo. O piloto deve ter sido demitido na hora. Não sei dizer se alguém da turma foi indenizado pelo prejuízo. Só sei que eu não recebi nada, saí perdendo".