Meu sol para tapar um buraco (Arquivo JRS) |
As minhas
primeiras letras foram aprendidas na areia molhada do lagamar, na praia da
Fortaleza, quando pelas manhãs eu ia olhar o mar com o meu pai. Naqueles dias, o homem estava com os pés na Lua. Com uma vareta
na mãe ele ia desenhando as letras e eu copiava tudo. “Assim se escreve José, o seu nome”. Desde quando aprendi a ler nos livros, graças
à saudosa professora Olga Gil, tenho me aproveitado de preciosos textos, de
mágicas narrativas, de viagens maravilhosas. De acordo com o escritor Daniel
Pennac: "Ninguém se cura dessa metamorfose. Não se retorna ileso de uma viagem
dessas. A toda leitura preside, mesmo que seja inibido, o prazer de ler [...]
Se, entretanto, o prazer de ler ficou perdido, ele não se perdeu assim tão
completamente. Desgarrou-se apenas. Fácil de ser reencontrado”.
Ontem, por motivos familiares deixei de comparecer ao evento promovido pelo Pedro Caetano, em Caraguatatuba, Mil desculpas, amigo Pedro. Esta postagem é pensando em você e em tantos outros que continuam fazendo um esforço incrível pela nossa cultura caiçara. Agora, entre as
fotografias da amiga Rê, nos preciosos registros da E.E.P.G (ER) Paranabi (Saco
do Sombrio – Ilhabela), encontrei uma escritora, cujo nome é Janaína, filha do
estimado Élcio, o fazedor de canoas do lugar. O título: Conversas de pescador.
Quem dá os depoimentos, gerando os versos: Sebastião, Antônia, Vô Maneco,
Benedito e Pedro.
Vou
te contar, Antônia
Estou
fazendo canoinhas
Pra
vendê-las na Colônia
E
ver de dá uma graninha.
Não
é que eu me queixe,
Mas
o tempo da fartura,
Em
que havia muito peixe acabou
E
hoje a vida tá dura.
Até
a caça no mato havia em grande quantidade...
Era
o quê de passarinhos,
Mais de cinquenta qualidades.
Mais de cinquenta qualidades.
E
lembro que tempos atrás
Para
fazer casa, canoa,
Remo
e colher de galho,
Gamela,
cesto ou samburá,
Era
bastante barato.
Era
só ter o trabalho
De
ir buscar no mato.
Também
tinha comida que o mato dá, sem plantar:
Palmito,
taioba, ingá,
Pinha,
fruta do conde, abiu e araçá.
O
vô plantava mandioca
(Vê?
Estou com água na boca)
Pra
cozinhar ou ralar e
No
forno virar farinha.
No
terreiro sempre tinha
Mamão,
carambola e jaca.
Já
a manga, abacate, goiaba,
Banana
e pitanga: de saca!
Tempo
bom em que eu era
Moça
na costeira brincar.
E
o pescador tinha roça.
Hoje?
Nem tem quintá.
Por
hoje é só! Espero que esta parte, escrita por uma criança, pela querida Janaína do Saco do Sombrio,
tenha lhe revelado a importância de uma educadora na descoberta do prazer de
ler e de escrever. Que importante registro histórico! Valeu, Rê!