Marco da Praça, no Ipiranguinha (Arquivo JRS) |
As
primeiras povoações brasileiras nasceram sob a moral religiosa. Ubatuba,
fundada em 1637, não poderia ser diferente. No bairro do Ipiranguinha, onde
moro há mais de 20 anos, também tem o mesmo princípio formador: foi uma religiosa
(Irmã Sofia) que, em 1965, iniciou um trabalho muito importante nesse bairro,
convidada por um professor que professava outra religião. “Era crente”. O
trabalho dessa madre foi tão marcante que até lhe homenagearam com uma
praça. Mas o legal é escutar o
depoimento dessa mulher: “O professor
Fernando fundou uma escolinha no Ipiranguinha e me convidou para ensinar o
catecismo às crianças das famílias católicas. No começo eu ia a pé, mas logo
compramos uma Kombi para facilitar o trabalho”.
A
ação da Irmã Sofia inicialmente era com as crianças, cultivando nelas
propósitos morais: não beber, não fumar, se comportar bem na escola, respeitar
os mais antigos etc. Em seguida, auxiliada por senhoras católicas (Dona Maria
Guatura e Dona Iracema), Irmã Sofia incentiva, em mutirões, a construção de um
Centro Social. O terreno foi doação do Senhor Acácio à
Congregação das Cônegas de Santo Agostinho. Porém, Irmã Sofia, já chamada por
todos por Madre, achou por bem não ficar com o terreno. “Nós já estávamos com muito terreno na cidade. Assim, doamos aos frades
conventuais franciscanos, cujo vigário era Frei Francisco Calderoni. Mais tarde
esse religioso comprou mais três ou quatro terrenos para fazer uma pracinha em frente à igreja
para o povo se reunir em dias festivos”.
Nessa
Obra Social as pessoas aprenderam artesanatos (costura, crochê...) e ofícios (pintor,
encanador, eletricista...) e receberam aulas de catecismo. Por volta de 1980,
quando eu fui conhecer o bairro, encontrei além da Madre Sofia, o professor
Pedro Paulo Scandiuzzi e o leigo Carlinhos, um caiçara natural da Ilha do
Promirim. Que comunidade bonita! Posso dizer que esses três se entregavam ao
trabalho com o apoio das pessoas de boa vontade do bairro. Assim, com o
incentivo dessa religiosa, foi fundada a Sociedade dos Vicentinos e a Sociedade
Amigos do Bairro. Mais tarde, conforme
depoimento do Seo Benedito, assumiram a luta para se criar uma escola no
bairro. “As crianças estudavam no salão
do Centro Social, mas eram muitas para o pequeno espaço. Assim fomos atrás das
autoridades. Eu viajei muitas vezes até Caraguatatuba por conta disso. Em São
José dos Campos, conseguimos um encontro com Dr. Chopin Tavares de Lima, da
Educação, que nos garantiu a construção de uma escola. Assim, desde meados da
década de 1980, temos a Escola Idalina do Amaral Graça”. Desse modo surgiu
e cresceu o bairro do Ipiranguinha!
Hoje,
ao passar pela Praça da Igreja, ao ler os dizeres do marco, é bom saber que nós
temos o dever de cultivar a memória de Madre Sofia e de tantos pioneiros desse
nosso lugar. E como se faz isso? Com uma boa educação!
Relato maravilhoso! Grata Zé, por mais esta história entre tantas e sem dúvida, sem educação todo um povo sofre e desaprende a sonhar por futuro melhor.
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