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Céu de todos - Arquivo JRS |
Todos os lugares e todos os momentos servem como aprendizagem. Se queremos cultivar a cidadania, devemos prestar atenção a isso. Tempos atrás alertei para um detalhe comum em quase todas as cidades: os nomes, as denominações de logradouros que prestam homenagens injustas, criminosas. Não é diferente em Ubatuba.
Lendo o livro O trato dos viventes, de Luiz Felipe de Alencastro, me detive num detalhe do século XVII, quando o reino de Portugal estava precisando de metais preciosos. Um pouco de ouro já estava sendo encontrado na região de Paranaguá e no interior paulista, mas a imensidão das terras do Brasil alimentavam as cobiçosas esperanças de grandes riquezas, justificando o trabalho de africanos escravizados e do vergonhoso tráfico negreiro.
Como ampliar a mineração na colônia americana, no Brasil? Os conselheiros do rei dão como um fato consumado a “grande quantidade de índios que hoje estão destruídos”. Para esses conselheiros não existia reserva de mão de obra indígena para as minas que planejava “entabular” nas latitudes brasileiras próximas de Potosí. Na circunstância, o Conselho entendia que só o trato de escravos de Angola podia “conservar” o Brasil. Dos quatro conselheiros que assinavam o relatório, três tinham vínculos diretos com o negócio negreiro. Um deles granjeava grande destaque na Corte e na política ultramarina: Salvador de Sá e Benevides, membro da oligarquia fluminense, restaurador e ex-governador de Angola, mentor das expedições lançadas no além-Mantiqueira atrás de prata, ouro e esmeraldas.
Esse Sá e Benevides, traficante de escravos que, a custo de muitas vidas tombadas reconquistou Angola, São Tomé e Príncipe ao reino de Portugal, nomeia a rua paralela à avenida Yperoig, no coração da nossa cidade de Ubatuba. Um de seus parentes tinha a fazenda para comércio de escravos na praia da Tabatinga, na estrada das Galhetas. Tal como os bandeirantes destruidores de comunidades indígenas largamente homenageados por aí afora, será que não passa da hora de rever tais honrarias? O apelo é pela cidadania ativa através dos espaços do nosso território.
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