Tô de olho (Arquivo JRS) |
Uma
prosa nada apaixonante, numa esquina muito especial:
- Agora, querida, nós estamos numa boa.
-
Por que, meu bem?
-
Porque o Zé Debruço morreu. Só ele poderia me atrapalhar na retirada de aterro
daquele lugar.
-
Então agora nós vamos enricar, né?
-
É isso mesmo! Ao preço de R$ 250,00 a viagem, vamos ganhar muito dinheiro!
É
como se dissessem: “Ainda bem que ele
morreu!”. Pesquisando no Arquivo
Tarcísio, fiquei sabendo que o Zé Debruço, o velho, era tesoureiro da
Basílica de Aparecida, onde circula muito dinheiro. Por isso que, quando morreu numa colisão na rodovia
(Dutra), seus restos estavam misturados com tantas cédulas. “Era só barões e barões que se via entre os
destroços, espalhados na pista”. Depois disso, seu filho (com o mesmo nome)
enxergou um filão de ouro no litoral, onde os brejos e mangues estavam sendo
aterrados para a construção de casas para os turistas. Sedento por dinheiro e
fama, procurou se fazer amigo dos políticos mais fortes. Em seguida, pesquisou
um lugar onde houvesse uma boa reserva de barro para ser retirado. A posse do
Zé Macaco, naquele recanto do bairro, era ideal. Fez um contrato com o pacato
cidadão e, durante anos pagou uma mensalidade pela retirada de tanto material,
de onde veio seu primeiro milhão que financiou algumas campanhas para
determinados candidatos. Porém, assim que Zé Macaco faleceu, Zé Debruço deixou de pagar qualquer coisa à viúva e
entrou na justiça pelo direito de posse. Mas os descendentes do falecido não se
esmoreceram. “A causa está na justiça.
Por isso que até hoje as terras não podem ser cercadas. Também por isso a retirada
de barro do morro está embargada há muitos anos”.
Só
sei dizer que, graças às amizades – e patrocínio! - com determinados políticos
eleitos e reeleitos, Zé Debruço obtinha certas liberdades e garantias,
conseguindo períodos de retiradas de material nas terras do Zé Macaco. “Teve tempo em que, as máquinas e caminhões
dele trabalhavam desde o clarear do dia até o anoitecer”. Mas, ao mesmo
tempo que estava nesse filão, o Zé foi cavoucando outros (transporte de cargas
e de passageiros, imóveis etc.). “Você
precisa ver a casa dele! É uma mansão, no alto do morro, de onde se tem uma
vista maravilhosa de todo mar!”.
Mané do Frango,
um nativo muito honrado, prevê o que parece ser inevitável: “Na última conversa que eu tive com o Zé,
ele se queixava desse prefeito, ‘ninja obturador’, que não quer facilitar as
coisas, impedindo a retirada de material. Agora, meu amigo, não é só o ‘Tubérculo’
que está de olho naquele pedaço de terra. Tem mais gente que está doida para
entrar ali, para ocupar o que agora é entendido como terra de ninguém”.
É, pode ser. É assim que tem acontecido no nosso entorno. Há muito tempo escreveu o poeta Mário Quintana: “O mal, tu bem sabes que já tem sido praticado, ao correr da História, com os mais sagrados desígnios. E o que assinala e caracteriza os servos do Diabo, neste nosso inquieto mundo, não é especificamente a maldade: é a indiferença”.
É, pode ser. É assim que tem acontecido no nosso entorno. Há muito tempo escreveu o poeta Mário Quintana: “O mal, tu bem sabes que já tem sido praticado, ao correr da História, com os mais sagrados desígnios. E o que assinala e caracteriza os servos do Diabo, neste nosso inquieto mundo, não é especificamente a maldade: é a indiferença”.
Enfim,é terra caiçara! Não tá abandonada! Conforme aviso na porta do coitado: "Tô de olho!"
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