Tio Dico, Tia Baía... e nós...no Rio Quiririm (Arquivo JRS - 1993) |
Quem, de vez em quando, não se lembra de alguma palavra que está em
desuso, mas que fazia parte do linguajar de outros tempos, servindo na
comunicação de nosso povo?
“Não carece”.
“Fez um fuzuê”.
“Quando
me precatei”.
“Aquilo
é uma pândega só!”.
“Deixa
de corrimaça, menino!”.
“Isso
é engodo”.
Nestas
frases estão alguns exemplos. Muitas outras, apesar do tempo e de até mesmo seus
criadores já não existirem, continuam fortes. No Brasil, em especial em
Ubatuba, é o caso das palavras herdadas dos indígenas do povo Tupinambá, os
antigos habitantes desta terra. Elas têm força mesmo!
O
viajante francês, Charles Ribeyrolles, no reinado de Pedro II, escreveu isto:
“Lê-se em certos cronistas brasileiros que o gracioso nome - Campos dos Goitacazes -
Deriva, em
língua indígena, de outra palavra – Goitacamopi - que significa campo de delícias.
Não sou bastante versado em
dialetos da floresta para afirmar ou contraditar essa etimologia lendária; sei,
porém, o quanto primam os selvagens em representar por um vocábulo a beleza, a
magia dos lugares, e quando vi Campos, seu rio, seus bosquedos, suas planícies
sem fim, tocando o horizonte, a oeste, o vasto anfiteatro das montanhas,
exclamei, com os Puris e os Coroados – Campos de delícias!”
No caso de Ubatuba, “terra de
muitas ubás” foi anexada ao nome dado pelos portugueses como complemento. Assim,
com este nome, nasceu esse lugar caiçara:
Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba. Agora,
depois de tanto tempo, quando nem sombra de tupinambá resistiu, o que ficou?
Somente Ubatuba, o vocábulo que realmente bastava para dizer tudo do nosso
lugar!
E onde abundava ubás? Próximos dos
rios! Era a mata ciliar que segurava as ribanceiras dos nossos límpidos e
piscosos veios d’águas. Hoje,
testemunhando as ocupações desordenadas, os condomínios chiques, a tomada das
margens dos rios, os canos de esgotos que consomem o nosso meio ambiente, as
estações de tratamento de esgotos que espalham a fedentia desde a madrugada
etc., fico imaginando qual seria a denominação que um tupinambá daria ao nosso
lugar.
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