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Tartarugas - Arquivo JRS |
Maciel vive no mato, no alto da serra, mas nasceu e se criou no jundu do Ubatumirim, onde era o estaleiro do padre há décadas. Esse caiçara trabalhador passou pela pesca, foi embarcadista, de onde traz uma experiência inesquecível. Também aprendeu muito na construção civil (prova disso é a sua casa no meio do mato, nas proximidades de Catuçaba, município vizinho de São Luiz do Paraitinga). Na sua área tem de tudo um pouco, trazendo uma vez por semana (quarta-feira) a sua produção para a venda na Feira Agroecológica (final da rua Orlando Carneiro, no centro de Ubatuba). Até vinho de amora está produzindo na friagem da Serra do Mar. A grande novidade do momento é o mel da florada de suas jabuticabeiras. Quer provar? Passa na feira!
Toda vez que eu me encontro com o Maciel, o assunto é a nossa cultura, os nossos traços culturais. Inevitavelmente o nosso palavreado destoa de muitos que nos rodeiam. Por isso alguém da roda, que escutava a prosa, comentou: "Vocês precisam montar um vocabulário, explicar as palavras que os caiçaras usam". Eu disse que já existe um modesto livro composto pelo João Barreto, meu primo da praia da Fortaleza. Coube ao Carlos Rizzo a editoração. Se esgotou assim que saiu. Também o Peter, da Enseada, produziu um livro no tema das falas caiçaras. Indo mais longe, no ano de 1978 Olympio Corrêa de Mendonça concluiu a tese de doutoramento na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob o título: O léxico do falar caiçara de Ubatumirim. Portanto, lá estão os falares de muitos personagens familiares ao Maciel. Vale a pena ler, minha gente! Também vale muito uma visita ao Vale do Paty, o sítio desse meu amigo!
O assunto, por influência dos temperos que o Maciel estava negociando, rodou em torno de gastronomia. "Qual é a melhor parte do peixe, Zé?". Eu respondi, sem dúvida alguma: "É a bentrecha, claro!". Ele concordou comigo. Um dos ouvintes perguntou a nós: "O que bentrecha?". Esclarecemos na hora: "É o ombro do peixe, aquela parte que pega a barrigada". Que saborosa é essa parte do peixe - de qualquer peixe!-, principalmente quando, depois de secagem ao sol, vem acompanhada com a deliciosa farinha de mandioca!
Muito mais nós proseamos gostosamente. Só faltou, no final, um café com biju.