segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

CARAPIRÁ

      

Carapirá - Arquivo internet

 Quando criança, deitado na areia da praia, eu adorava olhar carapirás voando, indo e vindo, circulando na imensidão do céu. Não conhece? Também era chamado de tesoureiro esse pássaro que vive nas costas brasileira se alimentando de peixes, caranguejos e mais coisas que o mar oferece. Mais tarde me disseram que carapirá também era fragata. Deve ter outros muitos nomes esse lindo ser alado. Vovô Armiro dizia que eles faziam ninhos nas pedras da costeira da ilha do Mar Virado.

     Carapirá voa bonito, parece estar sempre à espreita de alimentos. Acho que, além de se preocupar com a sobrevivência, esse pássaro marcante da minha infância se deliciava com as belezas vistas do alto. Na verdade, sempre pensei que todos os passarinhos têm este privilégio. Na escola, já no Ensino Médio, o amigo Gulu apelidou o Ditinho, namorador inveterado, de carapirá. O apelido pegou no nosso colega de escola que vivia sempre bem arrumado, com pinta de galã. Logo muita gente o chamava apenas por Carapirá.

    Tempos desses avistei o Ditinho Carapirá. Como foi bom rever esse amigo! “Tenho quatro filhos, todos grandes. Só um é adolescente. Agora tô mais tranquilo, não preciso trabalhar demais. Desde o ano passado estou aposentado. É pouco, mas com uns bicos que sempre tem a gente vai vivendo. E você? Tem visto aquele pessoal nosso? Quem sempre eu vejo é o Gildásio, do Araca”. E a nossa prosa foi longe, mais de hora se recordando da nossa turma, dos momentos bons que vivemos na Ubatuba de outros tempos. “E por falar em Araca, você se lembra do Rancho do Araca? Era na praia da Enseada, o meu pai trabalhou na construção. Naquele tempo a Enseada, juntamente com Lázaro e Perequê-açu, era sucesso, abarrotada na temporada de férias de começo de ano, o paraíso dos sorveteiros.”

   Imagine se um sujeito, tipo carapirá espreitador, não conhecia o Rancho do Araca! “Eu conhecia, fui lá algumas vezes. Era bom sim, com muita gente bonita. Só que eu sempre morei no centro da cidade, então era complicado o deslocamento naquele tempo, horários de ônibus eram poucos e a gente nem sonhava em ter um carro. Por isso eu só circulava nessa área entre o Itaguá e Perequê-açu na minha bicicleta. Naquele tempo ninguém falava em Praia Grande, né? O mar era bravo, diferente de hoje. Só os poucos surfistas daquele tempo se aventuravam por lá.”

   Que volta nós demos naquela tarde de prosa! Mesmo animado, o meu amigo não perdia detalhes do movimento no entorno, das pessoas passando pela avenida e até comentava detalhes impensáveis. Resumindo: o Carapirá continua em forma.