quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O OURO DO JOÃO

 

Salve, João! - Arquivo JRS 

    João Carioca é uma amizade recente, do tempo em que eu viajava muito de ônibus para me deslocar no serviço diário. Bem cedo a gente se encontrava indo para a labuta. Logo nos descobrimos no prosear. Pensa numa pessoa boa de prosa. Assim é o João. Logo ele me confidenciou que foi parceiro do vovô Estevan, no tempo em que trabalharam no terminal da Petrobras, em São Sebastião, no final de década de 1960. O serviço deles era abrir valas para drenagem do terreno. Foi quem me contou da saudade que o vovô sentia da sua terra, das suas coisas, do seu pessoal. Frase recorrente dele ao avistar o mar, de acordo com o João, era: "Ai minha rede, ai minha canoa". Tinha vontade de voltar a pescar esse meu ente estimado demais, cujo nome repassamos ao nosso filho querido.  

    A história do João não começa em Ubatuba, pois caiçara não é. Ele é natural de Volta Redonda (RJ). Por desavenças na localidade causada pelo irmão mais velho, João achou por bem sair  do seu lugar de origem e procurar outros ares. Primeiro foi morar no bairro da Vargem Grande (Natividade da Serra), depois "escorregou" serra abaixo e veio parar em Ubatuba. Sempre disposto a fazer de tudo para garantir uma vida melhor aos familiares, ele passou por diversos empregos até se fixar na Estação Experimental do Horto Florestal onde, pelo empenho e honestidade, encontrou no diretor (Doutor Gentil) um ombro amigo. Transcrevo agora a fato que alavancou a vida desse meu amigo, segundo ele mesmo me contou mais de uma vez:

    "Escute bem, Zezinho. Eu trabalhava e morava no Horto, numa daquelas casinhas feitas para abrigar funcionários e familiares. Então cismei de criar umas galinhas para aliviar nas despesas. Falei como diretor, pedi autorização e contratei um ajudante para a tarefa. Num dos pontos marcados para receber uma coluna da cerca, nos deparamos com uma laje. Tinha espaço bastante para fazer outro buraco e assim escapar daquela barreira, mas eu era teimoso, queria porque queria que fosse ali fincado o esteio. Aquilo foi a minha sorte. Sabe o que tinha debaixo daquela barreira? Um cordão de ouro, um colar. Que fiz eu: levei e expliquei toda a história para o doutor Gentil para ele não pensar que eu tinha roubado de alguém. Para encurtar a história: ele levou o meu achado para ser avaliado em Campinas e se ofereceu em comprá-lo. Com o dinheiro que ganhei (graças à teimosia em abrir o buraco naquele lugar) eu pude investir: comprei uma bicicleta velha e nos momentos de folgas eu comecei a vender verduras. Pegava ali na Marafunda, na plantação dos Matsuoka, e seguia oferecendo os produtos pedalando pelos caminhos. Depois comprei uma carroça para vender areia retirada em pás do rio Grande por humildes trabalhadores e trabalhadoras. (A finada mãe do Ditão era uma dessas mulheres lutadoras. Ela deixava muitos homens no chinelo). Não demorou nada para eu adquirir um caminhão e poder entregar areia nos depósitos e obras mais distantes. Aí só cresci. Teve um tempo que, desde o Ipiranguinha até chegando perto da capela da Marafunda, tudo era porto de areia para  eu fazer as minhas cargas. Ganhei dinheiro, comprei terrenos, fiz casas... Muitas amizades permanecem desse tempo de muita labuta."


   Em tempo: atualmente João mora com uma das filhas, próximo do posto de saúde do bairro, no Ipiranguinha. Proseador dos bons tá ali!

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